Muito tem sido dito e escrito sobre o jogo entre a França e a Inglaterra. E tem-se concluído, genericamente, que a Inglaterra jogou mais e melhor; aliás, as estatísticas - as mais óbvias, pelo menos - parecem indicar isso mesmo.
E no entanto, a França dominou a Inglaterra na "melee", espremendo duas penalidades/6 pontos a Dan Cole e negando uma plataforma de ataque importante aos Ingleses. Já explica qualquer coisinha. Mas a surpresa dos números tem ainda mais pano para mangas. A França registou mais quebras de linha (10 v 8), concedeu metade das penalidades (4 v 8 e Doussain falhou pelo menos 6 pontos), placou mais e mais eficazmente (151 e 85% v 116 e 82%) e fez marginalmente mais "offloads" (17 v 15). Ou seja, com menos posse de bola e menor domínio territorial, a França atacou qualitativamente tanto quanto a Inglaterra - ou até um pouco mais, até porque marcou mais um ensaio (3 v 2).
Relembra-me as conclusões de, entre outros, João Paulo Bessa, no seu excelente XV contra XV, após o Austrália v África do Sul para o transacto Mundial, em que os Australianos sem tocar na bola ganharam o jogo. Sorte, injustiça, arbitragem. Talvez não. Foi então que ganhou dimensão palpável a crise do paradigma da posse de bola e domínio territorial como receita infalível para a vitória. Nada prevalece sobre a qualidade de utilização, que resulta em ensaios e pontos. "Basta" ter uma defesa à prova de bala a acompanhar.
É por isto que questiono o optimismo Inglês, que nos fala de uma suposta fluidez no jogo, na novel capacidade de Owen Farrel jogar na linha de vantagem, ora penetrando a linha defensiva, ora fixando defesas deslizantes e preservando o espaço exterior para centros e 3 de trás, na sobrehumana capacidade física de Billy Vunipola, etc etc etc. É claro que Farrel aparece melhor este ano, é evidente que Vunipola teve um jogo memorável, mormente na penetração e passe para o ensaio de Luther Burrel, é claro que o jogo foi agradável e a Inglaterra teve momentos interessantes.
E no entanto, julgo que o treinador competente consegue distinguir entre o que foi construído e o que é resultado de uma oferta. Clive Woodward acredita piamente que, não fossem as substituições de Lancaster, a Inglaterra teria ganho. Dean Ryan, um dos optimistas moderados, escreveu sobre o tema e vale a pena ler. Já Will Greenwood - um iluminado no que toca à análise - resumiu de forma sublime aquilo que procurarei demonstrar: a Inglaterra cometeu grandes erros, mas perdeu pelo acumular das pequenas incompetências.
E porque o tempo é pouco e a paciência do leitor finita, vou resumir a análise aos ensaios e à forma como surgem. Avancemos pela ordem em que foram surgindo, cada um com direito ao seu "post".
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